Em 1999, Gaëtan ocupou as salas do andar nobre do Museu de Arte Contemporânea do Funchal - Fortaleza de São Tiago, com a exposição Cavaterra, onde agrupava desenhos datados de 1981-1998. Na sua totalidade auto-retratos a grafite sobre papel, pastel seco sobre papel, tinta-da-china e uma série – Adéle H. six portraits - a lápis de cor. A este último conjunto, juntou-se um núcleo de seis desenhos que, por aquisição à Galeria André Viana, passaram a fazer parte da colecção do MAC.
Agora, na vizinhança do retrato anónimo, armoriado, óleo sobre tela, do 3.º marquês de Castelo Rodrigo, D. Francisco de Moura Corte Real, reúnem-se quatro desses desenhos que, movidos pelo olhar, como de pedras de um jogo se tratasse, onde todas as variantes são possíveis, levam-nos a novas interrogações.
Para além da possível identidade de um rosto ou rostos o que estas obras, separadas por séculos, nos revelam, já como objecto de memória, são outras tantas formas de comunicação, transformadas numa teia de repetições, semelhanças e diferenças.
Persistentemente, e a partir de 1981, num registo compulsivo, Gaëtan auto retrata-se numa diversidade de atitudes, onde a insinuação como metáfora ou a duplicidade da máscara são vectores determinantes para o conhecimento deste rosto que ora se espanta, inquieta, observa, adormece ou envelhece.
Gaëtan vai traçando um labirinto, jogo onde o autor se vê e deixa ver, frente a um espelho cego, fazendo-nos acreditar num possível registo autobiográfico.
Variando as posições do rosto em constante mutação, em traços de grafite, carvão ou mesmo, esferográfica, raramente coloridos, de modo ora subtil ora riscando o suporte com mais violência, o seu autor constrói uma expressiva galeria de retratos, marca de um efémero tempo interior que o desenho corporiza.
“O que me interessa, perante este espelho, é registar o que vejo. Há uma preocupação muito grande em relação ao que estou a ver. E depois sai-me, parece que sai, tudo trocado. Eu olho tão intensa e fixamente o espelho, para ver o que vejo, que devo tresler o real (…).”
Mas será este sempre e o mesmo rosto, o de Gaëtan?
Exposição visitável no Museu Quinta das Cruzes até Setembro de 2011